A democracia está em perigo nos EUA? Pergunta, no seu texto publicado na Imprensa, o Doutor TOCHA COELHO
TEXTO DO DR. TOCHA COELHO publicado na Imprensa retirado com a vénia devida:
A democracia está
em perigo nos EUA?
Três
anos após o assalto ao Capitólio na América do Norte pelos partidários de
Donald Trump, em 6 de Janeiro de 2021, o acontecimento continua a marcar a
paisagem política e pesa sobre a campanha eleitoral para as eleições
presidenciais de 5 de Novembro. Segundo o atual presidente da América, Joe
Biden, a eventualidade do novo duelo eleitoral com Trump, será um teste para a sobrevivência da
democracia nos Estados Unidos, ou seja, segundo ele, dependerá da vontade dos
eleitores a manutenção do regime democrático no país, ou o caos político.
Entretanto o Tribunal supremo federal deu a conhecer que irá examinar a questão
da inelegibilidade de Donald Trump a partir de Fevereiro, o que resulta do
facto do problema ter sido posto em discussão após a decisão de dois Tribunais
supremos dos Estados federais, o do Colorado e o do Maine que decidiram que o
antigo presidente não se pode apresentar às eleições, pois, de acordo com a 14ª
emenda da Constituição, “a função pública está interdita aos cidadãos que
tenham participado numa insurreição”, situação que se aplica a Trump. No país
já foram propostos processos similares, visando impedir Trump de ser candidato,
nos Tribunais supremos de mais de trinta outros Estados. Torna-se assim urgente
que o Tribunal Supremo federal, perante o qual o antigo presidente republicano
apresentou recurso da decisão do Tribunal do Colorado, pelo que, aquela
instância deverá pronunciar-se sobre este tema, tendo em conta que vai abrir-se
o período das eleições primárias no seio dos partidos. A mais alta instância
jurídica do Estado norte-americano tem a particularidade de, neste momento, dos
nove juízes que o constituem, três deles foram nomeados por Donald Trump. Se
esta instância jurídica vier a considerar que a emenda constitucional acima
referida se aplica ao ex-presidente republicano, os seus partidários podem
recorrer de novo à violência, colocando em causa a legitimidade do Tribunal.
Por sua vez há outro perigo: uma decisão tomada por uma curta maioria dos nove
juízes será a revelação da divisão do Tribunal supremo, agravando a polarização
do país.
Não
deixa de ser curioso que Donald Trump seja favorito nas sondagens: ele continua
a contestar o resultado da eleição de 2020 e não faz nenhum segredo em
homenagear os amotinados de 6 de Janeiro de 2021, que foram condenados pela
justiça a penas de prisão, os quais ele classifica de “reféns” ou de
“prisioneiros políticos”. Joe Biden fez já saber que era candidato ao segundo
mandato, embora tenha 81 anos, com o propósito de barrar o caminho a Trump e
defender a democracia no país. Na sexta-feira, dia 5, escolheu para o local do
seu discurso um lugar simbólico: O Valley Forge na Pensilvânia, onde George
Washington, acompanhado de La Fayette, acampou as tropas durante o inverno de
1777, para resistir aos Britânicos. Biden advertiu no seu discurso que, a
América não resistirá a novos assaltos de Trump e à “violência política” que este
encoraja. Afirmou que a América sabe quem é Donald Trump. Mas a pergunta que
ele faz é a seguinte: - “quem somos nós?”. É também a esta questão, de
consequências pesadas para o resto do mundo democrático, que, de certo modo,
têm de responder os nove juízes do Tribunal supremo.
Jorge Tocha Coelho
Figueira da Foz
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