UMA CRÓNICA DE 2002 E OS PROBLEMAS FINANCEIROS DA BRIOSA
PROBLEMAS FINANCEIROS NÃO SÃO NOVIDADE NA "BRIOSA"
UMA MEMÓRIA DE 2002
A ANTECEDER UM PORTO/ACADÉMICA
O F.R.A! DA MALTA DE COIMBRA
E O GRÁ, GRÉ, GRI, GRÓ, GRÚ... DE PORTISTAS.
A Académica desloca-se ao Porto em clima de alta perturbação. Os salários em atraso foram notícia dominante nos últimos dias tendo estado em causa a continuação do técnico João Alves caso os cheques já em poder dos jogadores não viessem a poder ser recebidos. À atitude de solidariedade financeira do técnico para com os jogadores correspondeu um esforço titânico do elenco diretivo para conseguir ultrapassar os problemas. Em Coimbra, como parece estar a ser na maioria dos clubes, em Portugal e na Europa, os vencimentos dos futebolistas profissionais estão acima das possibilidades de gerarem receitas adequadas.
O caso da Académica é apenas um pouco diferente, por mais exigente e pela “história” da Instituição. Há um grupo de profissionais que são estudantes e que auferem vencimentos inferiores aos profissionais a tempo inteiro. Estes profissionais em “full time” constituem um núcleo indispensável para criar um plantel que no seu todo possa responder às exigências duras de uma alta competição.
Está, contudo, associada à Académica uma imagem de futebol-poético , uma áurea mítica e paradigmática, de tradição feita, susceptível de a Instituição não ser corrompida ou motivo de notícia por questões salariais. Os dias de hoje não são iguais aos do passado , nem as performances necessárias para uma SuperLiga, pelo que há um “choque maior” quando a Académica se vulgariza por causa do “metal sonante” parecendo cada vez mais distante do “cliché”, do valor icónico que lhe foi conferido pelo país onde ainda em alguns episódicos casos se pensa que os jogadores da BRIOSA têm como prémio de jogo ... um pirolito.
A Académica é hoje uma estrutura profissionalizada, é um clube com custos altos, apesar de continuar a sua obra social e cultural e de apostar nos jogadores atletas. É também um inequívoco veículo de promoção da cidade do Conhecimento, que vai ser 1ª Capital Nacional da Cultura e da Universidade e até da Região Centro. Mas a Académica dos nossos dias é uma entidade que reponde à memória histórica pela luz de um passado quase mítico. Que se tornou lendário. E para o respeitar a BRIOSA paga uma fatura mais cara e com a desvantagem de que os apoios não são proporcionais. A Académica constituiu ( e constitui ainda uma matriz futebolística singular em Portugal) mas está a pagar um excessivo peso pela sua autonomização em relação à Direção Geral dos “Estudantes”, a Casa-Mãe como é conhecida...e dos “novos tempos”.
O fardo da incómoda classificação na Superliga, quase a segurar na “lanterna vermelha”, e o problema dos salários em atraso arrefeceram os ânimos em Coimbra, mas não foram suficientes para que os seus adeptos mais jovens, os milhares de estudantes em especial, aglutinados muitos deles em claques deixassem de continuar a puxar pela sua velhinha BRIOSA. Aliás os próprios estudantes universitários e dos Institutos de Coimbra têm estado envoltos em polémicas e manifs saindo à rua em defesa da Qualidade do Ensino, da melhoria das condições nos estabelecimentos de ensino e de muitas outras exigências. O espírito reivindicativo neste grupo sempre foi grande, mas agora o país, por questões de convergência, aperta mesmo o cinto. Esse apertar de cinto já chegou ao futebol profissional da Académica e os vetustos “TEÓRICOS” vão ter que ser ainda mais originais no encontrar de soluções.
Aos mais novos resta o consolo de rumarem também ao Porto neste embate com o gigante e tradicional amigo , o Dragão das Antas. Os “Pardalitos do Choupal”, como um dia os apelidou Vítor Santos, antigo chefe de redacção de A BOLA e sua permanente referência, terão de esvoaçar à volta do Dragão lançando capas ao vento ou o seu grito declamado :
o F. R. A! O que é continuado desta forma : ÉH MALTA F.R.A. : Á; F.R.E.: É : F.R.I. : I; F.R.Ó : Ó ; F. R. U. : U. FRÁ;FRÉ, FRI, FRÓ, FRU: ALIQUÁ, LIQUÁ ; LIQUÁ. CHIRIBITATÁ, CHIRIBITATÁ; , HURRA. HURRA. HURRA.
Ao que parece o grito que hoje é a “onda” de apoio à Académica, e que se vai ouvir nas Antas na noite de segunda, terá sido importado do Brasil por estudantes daquele país irmão que em apreciável número sempre frequentaram a Universidade de Coimbra. Trata-se das iniciais da Frente Republicana Académica, segundo uns, ou da Frente Real Académica, segundo outros. Segundo republicanos e monárquicos respectivamente e como está bem de perceber. O eminente professor de História da Universidade de Coimbra Nelson Correia Borges, quase não opina quando questionado sobre esta matéria mas admite, como remota, a possibilidade de o grito académico de Coimbra ser provavelmente uma adaptação de um outro registo, mas este cantado e inserido no Cancioneiro de César das Neves editado no Porto no século XIX : O GRÁ, GRÉ, GRI, GRÓ, GRU.
“De seguro não há nada” – diz ao nosso jornal o historiador Nelson Correia Borges.
Para além de o economista Rui Alegre do Grupo Amorim integrar agora a SAD portista e de o Grupo Amorim através da sua filiada Figueira- Praia, Casino da Figueira, ser o principal sponsor dos “estudantes”, as ligações entre os dragões das Antas e os Pardalitos do Choupal terão histórica e justificadamente muitos pontos em comum e cada vez vamos descobrindo mais embora os cofres devam ter estado sempre com pesos... diferentes. E do FCPORTO entre muitos outros vieram para Coimbra nomes inesquecíveis como Manuel António ( hoje um conceituado médico e foi Diretor do Instituto de Oncologia), Artur Jorge ( licenciado em Letras e referência no futebol mundial) Fernando Couto ( dos melhores jogadores do Mundo) e o central Tonel. Se uns fizeram do futebol as suas vidas para outros o futebol foi trampolim para destacado estatuto social. Afinal sempre se misturou o profissionalismo com o futebol que deu prioridade aos estudos.
Com FRA´s ou GRÁS, GRÉS, GRIS os jogos entre Porto e Académica têm uma forte carga de afetos... sempre à espera de surpresas.
Sansão Coelho
2002-11-30
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