E NÃO VAI NADA PARA O MEU GATO ZÉ BRIOSA?
E NÃO VAI NADA, NADA, NADA
PARA O MEU GATO ZÉ BRIOSA?
O meu gato ZÉ BRIOSA anda triste porque não conseguiu entrar na campanha. Entra o ZÉ ALBINO, entra a cadela BALA, vários animais… e para ele nada.
Nem um segundo de tv para declarar o seu sentido de voto, nem uma referência dos líderes ao seu empenho em ronronar durante horas seguidas perante o desfilar nos ecrãs de tantas pessoas ilustres a debitarem as suas propostas. “Isto de morar na província, e pior ainda para os gatos que estão no Portugal profundo, não nos dá hipótese de uns cinco minutos de fama!” – é o que me diz o meu gato Zé Briosa, enroscando-se e denotando o mais anafado ar comportamental igual ao do Reverendo Bonifácio o tal bichano ao qual Os Maias deram um elevado estatuto e notoriedade máxima só alcançável, por exemplo, num Big Brother. ”O Portugal de cabras e carrascos de que falava Torga e que Arnaut citou no seu romance Rio de Sombras, está lixado” – argumentou o Zé Briosa tornando ainda mais hirtos os seus extensos bigodes. “Se não vem a regionalização volto a ter que caçar ratos o que dá muito trabalho.” – concluiu; e não o deixei miar mais porque vamos entrar em tempo de reflexão e o Zé não deve influenciar nem ser influenciado.
Sirvo-lhe a ração que retiro da saca onde está a indicação de que se destina a gatos esterilizados. “E ainda dizem que há poucos nascimentos!” – caluda, admoesto-o. Eu deixo de falar; ele, o Zé, deixa de miar.
A campanha está a
terminar e se não fosse isso ainda gostava de saber quais os animais domésticos
dos cabeças de lista por Coimbra e os seus nomes. Havia, em tempos, uma
tendência para os animais terem nomes regionais como Mondego, Mira, Coimbrinha,
Ceira, Hilário, Marialva, Fadusco. Agora os nomes são mais sofisticados,
localizados e humanizados: ZÉ LINGRINHAS, TARECO DO PENEDO, COCHICHO DA SEREIA,
PAULINHO DA CONRARIA, BETO DA CALÇADA, RITOCA DE CELAS, TINOCO DE EIRAS, TINITO
DOS OLIVAIS ou apenas Pedro, Afonso, Inês, Paulão, Zézito ou ainda em registo
científico Einstein, Newton, Pasteur, Darwin.
Li, há dias, que “durante a
primeira audiência geral do Ano Novo no Vaticano, o Papa Francisco passou
a mensagem de que os casais que preferem ter animais de
estimação em vez de crianças demonstram “uma
forma de egoísmo”. Leio e subscrevo.
Só não subscrevo saber que há por aí empresas que não
renovam contratos a mulheres grávidas. Isto é mesmo verdade?!
“Sai daqui Tarequinha do Despertar, não estejas a confiar
no meu gato nem a cofiar-lhe o pelo e vai para os teus donos lá para a estrada
de Eiras…deixa o meu Zé em paz porque dele não levas nada… sabes ler? Olha o
que está escrito na ração: para gatos esterilizados.”
Sansão Coelho
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