JACINTO CAMELO - UM HINO AO ASSOCIATIVISMO COM MÚSICA E A DEZ DE AGOSTO NO CORAÇÃO





PROTAGONISTAS DA “DEZ DE AGOSTO”


JACINTO CAMELO


UM HINO AO ASSOCIATIVISMO

COM  A MÚSICA E  A “DEZ DE AGOSTO” NO CORAÇÃO


-Onde nasceu, JACINTO?

- Nasci numa casa humilde, na Aldeia do Camarção, freguesia de Quiaios, integrada desde o ano de 1985 na Freguesia do Bom-Sucesso, portanto região da Gândara Profunda, ajudado por uma parteira da Aldeia do Arneiro de Sazes, de nome Maria Custódia. Nasci no dia 9 de abril de 1961 às 4,20, segundo contava minha mãe e avó materna, mas, oficialmente, nasci a 13 de maio do mesmo ano, porque o meu pai que era militar na Base Aérea de Tancos e lá faleceu não veio a tempo de me registar dentro do prazo. Entretanto aos 5 anos tive um padrasto, nada padrasto, homem muito culto, amoroso e com uma caligrafia invejável e paciência de santo que dava aulas aos adultos da aldeia. Ensinou-me a escrever e ler aos 5 anos e recordo que contava histórias e lições de moral as quais ainda hoje guardo tudo num lugar especial no meu coração. Depois de fugir à G.N.R. porque me disseram que me queriam levar para a escola tive que ir fazer o curso superior de agricultura aos 10 anos na Borda d´ Água, no Ribatejo, no Cartaxo, para onde fui durante 3 anos. Voltei para a aldeia para trabalhar nas madeiras com salários em atraso até hoje pois foi no tempo do PREC. Entretanto fui para aprendiz de padeiro em finais de 1974 para a Chã.

-A sua atual profissão?

-  Sou Funcionário da A.P.F.F (Administração do Porto da Figueira da Foz) no serviço de Pilotagem do Porto da Figueira da Foz. Sou tripulante Marinheiro de 1ª do Tráfego Local das Lanchas rápidas que servem de transporte aos Pilotos do Porto Comercial na sua abordagem aos Navios Comerciais em alto mar, para os conduzir em segurança até ao Cais, assim como quando saem é preciso recolher do Navio o nosso Comandante (Piloto) que tem a tarefa de largar o Navio em Alto Mar em segurança e entregar o comando ao seu piloto habitual. Uma função de muita responsabilidade de horários e sempre disponível para todas as situações em qualquer dia da semana ou hora.

- Um gosto especial pelo mar? Foi sempre um desejo do JACINTO?

 - Não reflete nenhum desejo de infância, pois só tive contacto com o mar aos 7 anos na Praia da Nova Albânia, Costinha, depois de 7 anos como profissional de padaria nas categorias de Forneiro e Amassador na Sociedade Figueirense de Panificação que gostava imenso, mas por motivos graves de saúde tive que abandonar, e mais 10 no Município da Figueira. Entrei por concurso para a antiga Junta Autónoma do Porto da Figueira em 1994.

SEMPRE GOSTEI DE OUVIR TODOS OS ESTILOS DE MÚSICA

- Sempre ligado à música?

- Sempre gostei de ouvir todo os estilos de música. Em jovem comprei muitos livros de música, ouvi, comprei e guardei cerca de 250 cassetes, comprei violas, fiz curso de música em Viola do antigo CCC, sempre autodidata. Tomei contacto com a música em 1975 quando fui trabalhar para a Figueira como profissional de padaria. Fui aluno de música da escola do Bracourt, ali, junto à Igreja Matriz, durante dois meses, pois não tive dinheiro para mais mensalidades.

 

- Quiaios é o seu refúgio e morada?

- Quando fui residir para Quiaios há 21 anos fui inscrever a minha filha Patrícia na Filarmónica local e fui desafiado para também ir aprender e aceitei o desafio e fiquei como diretor e percussionista e aprendi umas coisas.  Entretanto como o Maestro era o mesmo da Banda Figueirense também aprendi mais umas coisas na Figueirense e fui ficando também a partir de 2005 como percussionista nesta Filarmónica também,  tal como em Quiaios. Ainda fiz uns serviços como aprendiz de Tuba, mas voltei para a percussão. Fiz parte da orquestra popular no 1º de Maio em Quiaios alguns anos. Entretanto também estive na Direção do Quiaios Clube e mais tarde comecei a gravar em formato digital todo o seu espólio de partituras de operetas populares locais e Teatros, e os respetivos textos, e ainda todo o material musical da famosa orquestra Quiaios Clube. Neste meu gosto por preservar a memória coletiva das Coletividades e das pessoas também digitalizei todo o espólio de partituras, documentos e textos das operetas no Grupo Musical de Instrução Tavaredense. Sou membro da Tuna de Tavarede há muitos anos e ainda na Freguesia de Tavarede sou mais um elemento do Rancho Etnográfico dos Cavadores do Saltadouro desde o ano 2018, onde me sinto muito bem.

 ESTOU A DIGITALIZAR E A CLASSIFICAR TODO O ESPETACULAR ESPÓLIO DA “DEZ DE AGOSTO”

- Na Dez de Agosto o Jacinto é uma referência e tem um trabalho notável de preservação das músicas?

-  Na Dez D Agosto estou a fazer e está quase acabado o trabalho de digitalizar e classificar por autores, temas etc., todo o espetacular acervo de partituras, documentos, alguns raros; fotos, livros da gestão, atas, livros das Assembleias Gerais, da Direção, Maestros, espólios do Rancho das Rosas, músicas e indumentárias, livros, tudo o que possa imaginar que é suscetível de ser digitalizado e guardado. Já temos 65 Gigas e não paramos por aqui. Neste momento estamos a digitalizar peças de teatro popular e sktechs antigos que se cantavam e representavam nos intervalos dos espetáculos dos Autos dos Reis Magos.

- E tem uma filha licenciada em música que é um exemplo maravilhoso e com um percurso notável?

 - A minha filha, Patrícia Pereira Camelo, começou na música na Banda Filarmónica de Quiaios aos 8 anos, fez o curso do Conservatório na Figueira da Foz  junto com os outros dois filhos, foi professora na Banda local no instrumento de Clarinete Soprano; foi durante alguns anos Maestrina do Coro Litúrgico da Filarmónica de Quiaios e também Maestrina da Orquestra Ligeira da Associação de Coletividades da Figueira da Foz, Fez o Curso superior  de Música na Universidade de Évora onde depois também fez o Mestrado. Foi a 1ª e única no País a fazer o Curso de Maestrina aos 15 anos no INATEL, foi vice-campeã mundial dois anos seguidos no concurso mundial de instrumentistas na cidade de Ávila, em Espanha, no instrumento de Clarinete Baixo. A Patrícia foi também fundadora de vários grupos musicais em Évora de vários estilos que mantém e um deles é o Seven Dixie grupo de Jazz estilo Belle Époque. Fez parte da Orquestra de Sopros de Coimbra que visitou o Japão e a Alemanha bem como da Orquestra Juvenil de Coimbra durante vários anos. Por isso posso dizer que a influenciei mais no sentido  de que o trabalho árduo e incansável sempre compensa. O restante é trabalho, muito trabalho e o talento dela.

NÃO VEJO UM FUTURO BRILHANTE PARA AS FILARMÓNICAS COM AS FONTES DE FINANCIAMENTO CADA VEZ MENORES

- Como vê o futuro das Filarmónicas?

 - Não vejo um futuro brilhante para as Filarmónicas Portuguesas pois as fontes de financiamento são cada vez menores, as festas populares são cada vez mais escassas e eram a fonte de rendimento das Bandas aliás, foram criadas a partir daí. As entidades locais ajudam, mas não chega, o poder central ignora totalmente a existência das filarmónicas, os instrumentos são caros, a manutenção elevada, um músico precisa, no mínimo, de 2 anos para sair a tocar com à-vontade. E há os gastos com sedes, impostos etc., o futuro é escuro, há soluções, os governos é que não querem. Quase todas as bandas neste país são mais que centenárias, há anos que se luta por um estatuto próprio e nada anda prá frente.

-Se conseguisse por magia dar uma prenda à Dez de Agosto, qual seria?

- Por magia uma prenda para a Dez de Agosto? Era a sede ser nossa o que tirava muita preocupação de despesas e de fazer cabelos brancos para os que se preocupam com esta casa.

-Quais os projetos que o JACINTO tem em mãos?

- Quanto a projetos de vida familiar é continuar a ter saúde para trabalhar, ver os meus filhos a crescer ainda mais como profissionais; e fazer o que gosto na música. No aspeto profissional, continuar até à idade de reforma a trabalhar pois outra coisa não sei fazer. E já agora digo que no aspeto musical gostava muito, mas mesmo muito de fazer um curso do conservatório de música se tivesse tempo.

SC

 

 

Comentários

  1. Obrigada Sansão por nos dar a conhecer melhor o nosso Jacinto. Que bom conhecer este percurso de vida maravilhoso. Estou encantada. Parabéns

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