MEMÓRIAS - FUTEBOL DA ACADÉMICA, O ESPÍRITO DE UMA ESCOLA.

 

RECORDAR É VIVER - UMA CRÓNICA de fevereiro, 2003  



FUTEBOL DA ACADÉMICA  

O ESPÍRITO DE UMA ESCOLA

 

 

 

Um mar de adeptos da Associação Académica de Coimbra foi “uma prova iniludível da força e do poder que o espírito do estudante de Coimbra possui”.  Esta  foi a explicação encontrada por Jorge Peixoto, na Revista Capa-e-Batina, para o entusiasmo, aliás uma  “impressionante manifestação” que marcou, por parte dos adeptos da Académica, a final da Taça de Portugal em 1967.

É curioso recordar a  temporada de 66/67 do futebol da Académica e respigar algumas ideias  desse artigo da época. No final dessa temporada o balanço do futebol de Coimbra era “apenas”... o seguinte: 

Primeiro clube português, fora de Lisboa e Porto, a ser vice-campeão nacional.
 
Nessa mesma ocasião chega também  à final da Taça no Jamor, frente ao Vitória de Setúbal. 

Jorge Peixoto questionava  o que teria sido o ambiente do epílogo da Final se a Briosa tivesse ganho o troféu perante o caudal de novos e antigos universitários com as suas pastas e insígnias e outros amigos de Coimbra que se juntaram em Lisboa.

A Académica aglutinou, curiosamente, nessa época em que terá sido  o melhor clube português e nos dois/três  anos seguintes um plantel constituído quase a  cem-por-cento por atletas-universitários. Um plantel do qual saíram vários jogadores internacionais, conceituados treinadores, professores universitários, diretores de Hospitais e de Serviços Públicos entre outros. 

Uma situação ímpar no espaço da Europa Ocidental com a particularidade de a ACADÉMICA em geral (e o futebol da BRIOSA de forma específica) se ter assumido como uma vanguarda  de intervenção em favor da Democracia, do Progresso e da Liberdade. 

Essa época é ainda considerada  o ANO DE OIRO DA ACADÉMICA, uma temporada em que a BRIOSA foi campeã em várias modalidades, um período em que  a Académica  continuou a reluzir enquadrada num passado que já se familiarizava com ecletismo através das suas várias secções desportivas, prestígio e a conquista da primeira Taça de Portugal em futebol em 39.

Ao longo dos tempos a Associação Académica sempre dispôs, pela sua postura na Sociedade, de um capital de afetos universais que a leva a ter adeptos em todo o país e pelo mundo e a ser um dos emblemas que habitualmente mais espetadores leva aos estádios na sua condição de visitante. 

Ao refletir o espírito de Coimbra, da Escola de Coimbra, a Académica é também, ou parece ser, uma fonte incessante de surpresas o que pode  explicar os “altos –e –baixos” de um Instituição que é “universal”, tal como a Universidade e a cidade a que se acolhe, cidade cosmopolita, cidade-acolhimento-hospitalidade, onde se inscreveram com a mesma naturalidade um “Antero de revolta e capa à solta”  no dizer de Manuel Alegre ou  uma equipa de futebol  que fez estremecer o Velho Regime de antes de Abril de 74, uma Ditadura que se viu surpreendida e “driblada” nas suas bases pelo “maior comício jamais visto em Portugal” no escrever de Carlos Pinhão um saudoso cronista de A BOLA, ao referir-se à  final de futebol com a Académica.

Esta Académica  teve o seu  Ano de Oiro Desportivo  quatrocentos e sessenta e seis anos depois da primeira existência de um  titular do Cargo de Reitor, D. Garcia de Almeida, em cujas casas de habitação “se abriram os primeiros cursos da universidade” aí, e no Mosteiro de Santa Cruz, no reinado de D. João III, que para Coimbra transferiu então  e em definitivo a primeira Universidade portuguesa, e uma das mais antigas da Europa, que andou a saltar entre Coimbra e Lisboa desde D .Dinis, fundador dos Estudos Gerais.
Ao que se percebe da “história”, verifica-se que os jovens universitários sempre foram ruidosos, amantes da boémia, do canto e de se ginasticarem. Por isso a pacatez de Coimbra acabou por ser preferível à buliçosa Lisboa.

E Coimbra, que já tinha sido capital do Reino, ganhou com a Universidade um estatuto ímpar,  um espírito curioso que com atuais, antigos alunos e a adesão da cidade  fez Escola. E há uma palavra que os seus académicos gostam de pronunciar ao dizerem que a Académica é, tal como Coimbra...sempiterna.

 

Sansão Coelho

Baseado em crónica de 2003-02-26

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