SUGESTÕES DE LEITURA: POESIA DE PAULO ILHARCO (VÁRIOS SONETOS) - VOLUME 2


POESIA DE PAULO ILHARCO - VOLUME 2




EM VÃO

 

Em vão tentei achar-te nas vielas

De dois mundos aonde fui sozinho.

Em vão te imaginei entre eles e elas,

Se, escuro, me perdia no caminho.

 

Em vão te procurei nas Cinderelas

Vestidas de cetim, veludo e linho.

Em vão me distraí com Musas belas,

Se tinha em meu olhar cravado um espinho.

 

Em vão quis murmurar canções com brilho

E até mesmo fazer contigo um filho,

Se tu eras um espectro de outra cor.

 

Em vão despedacei meu coração,

Se sempre em ti busquei a Imensidão…

– Em vão tu lês poemas, meu Amor!

 

29/8/2021                     Paulo Ilharco

TARDE

 

Quando nasci, já era muito tarde

P’ra conhecer o poeta que há em mim.

Apesar do Destino, mesmo assim,

O lume que eu chorara ainda arde.

 

Limitei-me a viver, como um cobarde,

Almejando que Deus ditasse o Fim.

Aos abismos quisera dizer sim,

Fazendo disso o meu maior alarde.

 

Seja este o meu último soneto,

Que vim ao Mundo apenas só por vir,

Perdido nas centelhas do luar.

 

Não tenho abismos. Tenho cianeto.

Talvez não seja tarde p’ra sorrir,

A fim de me encontrar noutro lugar!

 

28/8/2021                       Paulo Ilharco


 ISTO


Cessou a azáfama da Obra intensa.

Caiu a folha de papel em branco.

Foram sessenta anos de doença.

Estou louco, cego, surdo, mudo e manco.


Nos demais sempre a mais perdi a crença.

Atingi o Infinito por ser franco.

A Poesia, afinal, foi sempre imensa.

Agora estou sentado no meu banco.


Ao lado do Vazio encosto o ombro

E sonho. Vejo um colorido escombro

Ao redor de um só verso. Ainda existo.


Apesar de eu já ter chorado o mar,

Numa lágrima escrevo o meu lugar…

– Cessou a azáfama, que a Obra é ISTO!


19/8/2021                           Paulo Ilharco

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