POESIA RECOMENDADA: POESIA DE PAULO ILHARCO (atualização regular com novos poemas)

IDENTIFICAÇÃO



Hoje fui ver o mar... e vi-me ao espelho:

Continuo salgado, a marulhar,

Com ondas altas, brancas, a espumar,

Tendo ao fundo o horizonte já vermelho;


Com mestres a dar sempre um bom conselho,

Tenho barcos com homens a pescar;

Na praia, em frente, vejo, a versejar,

Um menino, com água p’lo joelho;


Porém, numa falésia, avisto alguém

Que está prestes, por ter perdido a Mãe,

A atirar-se da ponta de um rochedo;


Mas eu subo a maré e, de repente,

Marulho ao seu ouvido: “Sê mais crente,

Que eu elevo-te ao Céu – não tenhas medo!”.


7/8/2021                                   Paulo Ilharco

 

ERRO

 

Afinal, quem é esse paulo ilharco?

Será uma criança ou um adulto?

Um arco-íris sem ter cor nem arco?

Ou uma sombra, um marciano, um vulto?

 

Um ser que vai à lua, mas de barco?

Um recluso que enjeita o seu indulto?

Um louco que constrói em pó um marco?

Ou esse autor que o mundo quer oculto?

 

Será um visionário, um charlatão?

Um gigante de corpo e de alma anão?

Ou um sol que deixou a noite acesa?

 

Um deserto de lágrimas regado?

Um cacto que cresceu no abismo ao lado?

– Ou um erro da própria natureza?

 

5/8/2021                      Ao próprio.

                                   Paulo Ilharco






 ANTOLOGIA

 

Se eu tivesse de versos escolher

P’ra dar ao Mundo, numa antologia,

Não saberia como proceder,

Se todos eles são meus – não os daria!

Nasceram órfãos de carnal prazer,

Ante ignotos desígnios de magia.

– Ah, são meus filhos – sem os poder ter –

Do conluio entre Deus e a Fantasia!

 

A obra que pari é como o mar:

Há ondas sempre, sempre a marulhar,

Desiguais entre si – de sal iguais.

 

Da calmaria à própria tempestade,

Beijam a areia, desde a Eternidade,

E os rochedos e o Céu – e pouco mais!

 

4/8/2021                          Paulo Ilharco


PORTUGAL

 

Não custa nada! Sobe-se um degrau…

Não custa nada! É bem robusta a escada…

Não custa nada! É toda feita em pau…

Não custa nada! Aos Sonhos encostada…

 

Não custa nada! Avista-se uma nau…

Não custa nada! Sem bandeira içada…

Não custa nada! Ao lado de um calhau…

Não custa nada! Quase naufragada…

 

Não custa nada! A gávea está vazia…

Não custa nada! As velas não existem…

Não custa nada! A proa só tem sal…

 

Não custa nada! Solta-se a Poesia…

Não custa nada! Os Poetas não desistem…

Não custa nada! Um verso é Portugal!

 

21/7/2021                       Paulo Ilharco



SILÊNCIO DOS VATES

 

Há quem tenha joanetes na cabeça

E frieiras na alma. Há quem, também,

Teimosas, traiçoeiras teias teça,

Nas quais o Louco seja seu refém.

 

Há quem mensagens destas nem mereça,

Por tão ignóbil ser o vil desdém,

Perante nada e tudo que adormeça

O Silêncio dos Vates de Ninguém.

 

Há quem tal Grito ignore ou seja surdo

E cite um dístico, por mero absurdo,

Do parente mais próximo de Deus.

 

Há quem seja tacanho, por opção,

E blatere uma torpe opinião

Sobre catorze versos – estes, meus!

 

27/7/2021                  Paulo Ilharco                                     




FOLHA RASGADA

 

Se verdades alarves não dissesse

E seguisse padrões habituais,

Talvez, então, amigos eu tivesse,

Em vez de conhecidos, mil ou mais.

 

Se em cortesias vãs me desfizesse

E omitisse a perfídia dos demais,

Talvez a olhares subtis não me expusesse

E evitasse calúnias sociais.

 

Se em vez de ser eu próprio fosse alguém

Que viesse por mal e não por bem,

Talvez o Mundo fosse o que já é:

 

Uma folha rasgada com vontade

Com versos dedicados à amizade

De um poeta que perdeu a sua fé!

 

15/7/2021               Paulo Ilharco

                 

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