PARA UM "19 DE MARÇO" - DIA DO PAI

 

                                                     

PARA UM 19 de MARÇO


   DIA DO PAI



Pai, a saudade é grande, mas foi maior o exemplo de vida que me deu. Entre os meus e os seus dedos escorria aquela benéfica ligação, aquele partilhar da vida entre o lúdico e a lucidez do necessário. A vontade do ensinar a crescer. Por mim fez grandes esforços, gotas de suor que um dia foram de lágrimas quando parti para a guerra num cais de aflições carpidas, preces e adeus horrendos, cortantes de gritos como se a morte já nos separasse. Foi duro aquele dia, hem?! E foi aí o princípio do seu fim. E ficaram netas a perderem a sua bondade, bonomia  e alegria que podiam e mereciam ter sido o seu convívio alguns anos mais. Perdemo-lo, mas ganhámos a responsabilidade de continuarmos como Família a por em prática as suas virtudes e valores. Não sei se as prolongámos ou se pegaram de estaca. Ou até se, displicentemente, definharam em nós. 

As sombras na sua juventude que lhe retiraram a luz de uma sistematizada sabedoria, foram ultrapassadas pela marcha de um qualquer comboio em grande velocidade e, se possível, sempre à tabela. Meticulosamente à tabela. Que horas marca? Bandeira verde para prosseguir, até que um dia, de súbito,  foi desfraldada a bandeira vermelha e tudo parou. Ficou um sepulcral silêncio e a incapacidade de explicar a inexplicável e inexorável estação términus. Sem direito a mudar de linha. Tivemos de encetar uma nova viagem, numa nova circulação até ao próximo transbordo.  E isto num mundo em fulgurante mutação que a si sempre o fascinou e, por isso, sempre quis saber mais e ir mais longe para iluminar outros trajetos e servir todos os amigos que lhe encheram o peito com essa solidariedade inata de boné branco. Os bisnetos também são assim. 

O tempo passa; segue a uma velocidade vertiginosa a saudade que fica, roendo-nos por dentro, como se nos culpabilizássemos por não fazermos mais um pouco da viagem na sua companhia. Que bom teria sido e logo com o privilégio de viajarmos  todos em primeira classe! Foi mais dura a partida do que será qualquer chegada. A partida afasta-nos e causa dor enquanto, na chegada, parece haver sempre um sentimento de descoberta e nunca de perda...a tenebrosa perda da partida...há quanto tempo mudaram as agulhas?...mas continuamos à espera de uma nova chegada porque o comboio da utopia tem circulações ascendente e descendente.

Estaremos à sua espera na gare desta Vida. O que eu gostava era que aqui estivessem todos os filhos do Mundo tão felizes e orgulhosos do seu pai como acontece comigo. Estou, na gare, com a Rita, a Ana e três gajos muito porreiros e parecidos consigo até no feitio sorridente e solidário: o Dinis, o Afonso e o Sebastião, montemorenses de gema. Estaremos no apeadeiro de Montemor. Não se preocupe porque consultaremos o horário da chegada para aquele inacessível e utópico reencontro.

A imaginação permite coisas lindas...até  chegadas apoteóticas no Comboio da Saudade.

Até.

Obs: Dia do Pai, Março,19 - POR AQUI TODOS OS DIAS SÃO DIA DO PAI.


2021março15

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